28 de abr. de 2007

Como deve ser a Educação para o Séc. XXI?


Para quem perdeu, passo o link do blog da revista Época da semana passada. O tema tratado foi “Educação no sé. XXI”, dando seqüência à reportagem de capa da edição. A repórter Ana Aranha dedicou nove páginas para mostrar a necessidade de uma Educação diferenciada para enfrentar os desafios dos novos tempos. Um dos mentores dessa mudança é o sociólogo espanhol Miguel Arroyo, que coordena um grupo de trabalho do MEC que estuda a revisão do currículo escolar brasileiro.

Segundo a reportagem, para se destacar na sociedade e no mercado de trabalho, seis habilidades devem ser desenvolvidas nos nossos estudantes:

- Ter pensamento crítico: filtrar e interpretar o mar de informações;
- Conectar idéias: ser capaz de trabalhar com diferentes áreas do conhecimento ao mesmo tempo;
- Saber aprender sozinho: continuar evoluindo depois da escola;
- Conviver com pessoas diferentes: ser flexível na relação com pessoas de outra cultura, origem ou opção sexual;
- Estabelecer metas e fazer escolhas: arcar com suas responsabilidades e ser um cidadão autônomo;
- Ter visão globalizada: falar diversas línguas e conhecer a cultura e história de outros países;

A equipe da revista visitou escolas de São Paulo que já utilizam métodos diferenciados de ensino. Alguns, tão inovadores que parcem bem distante da realidade da Educação pública brasileira. É o caso de escolas como o Colédio Sidarta (Cotia-SP) em que os alunos são encorajados a aprender sozinhos. Mas em alguns casos, basta o interesse de professores e alunos. Na escola estadual Lázaro Franco de Moraes, no interior de São Paulo, a classe resolveu conectar o conteúdo sobre arte barroca com a realidade da região, onde há diversas capelas.

A reportagem peca por não deixar claro quais são os especialistas que apontam as seis características citadas como essenciais. Tampouco se há consenso entre os educadores.

Dica: o atalho para o blog da semana da revista Época não está mais disponibilizado no site, mas o endereço ainda está acessível. Sorte eu tê-lo arquivado.

26 de abr. de 2007

Metas não são promessas

O que o ministro Fernando Haddad fez questão de ressaltar – e os especialistas fizeram questão de elogiar – é que a fixação de metas representa um dos principais avanços do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) . Algumas metas são relativamente simples, como levar energia elétrica a todas as escolas e incentivos fiscais para a compra de veículos de transporte escolar. Outras, pretenciosas, como melhorar em dois pontos a média nacional no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e duplicar as vagas nas universidades federais.

O instigante, contudo, foi que o governo em nenhum momento deixou transparecer que se trata de promessas. Simplesmente “metas” - termo que geralmente estamos acostumados a ouvir na economia ou no mundo corporativo e raramente na Educação. O lado ruim: semânticamente, “metas” dá a entender que um objetivo pode não ser cumprido, embora haverá esforços para alcançá-lo. O lado bom: ninguém teve a impressão de se tratar de uma promessa como as de campanha, que são carregadas de descrédito.

Aliás, o governo teve o cuidado de mostrar como pretende alcançar a maioria dos seus objetivos. Na página do MEC está o resumo das ações, onde o governo também tentou explicar suas estratégias. Para educação de adultos, por exemplo, pretende utilizar professores em contraturno. E para evitar “fulga” de doutores para o exterior, lançamento de editais para bolsas da Capes (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) .

Em outros casos, nem foi preciso explica muito. Propostas como nova lei do estágio e criação de um piso salarial já tramitam na câmara. Isso fora propostas já existentes, como o projeto Universidade Nova, que não foi citado no PDE, mas cujo conteúdo tem estranhas semelhanças com as propostas do PDE para Educação Superior: criar mais curso noturnos, flexibilizar currículos e reestruturar a arquitetura acadêmica.

O governo só cometeu uma falha – e logo a mais grave e comum: de onde virá o orçamento? Na maioria dos casos, Haddad indicava como fonte os novos recursos do Fundeb quando questionado sobre a procedência. Mas um fundo que, em um primeiro momento, destinava-se apenas a garantir um valor mínimo investido por aluno será suficiente para financiar tentas ações?

Plano de Disfarce da Gafe

O presidente Lula preferiu não falar de improviso durante o lançamento do PDE, como geralmente faz. Certamente, foi bem aconselhado por seus assessores: os deslizes gramaticais do presidente seriam gritantes em um evento que trata de Educação.Certamente, seria um péssimo exemplo.
(Foto: Antônio Cruz/ABr)

23 de abr. de 2007

Salários bem diferentes (e planos de carreira idem!)

Aproveitando que o assunto é salário dos professores, incluo um levantamento mais abrangente feito pela revista Nova Escola deste mês. Os repórteres Arthur Guimarães e Fabiana Faria levaram três meses para reunir dados de 25 itens sobre a Educação de mais de 50 estados e municípios.

Até tentei fazer interpretações, mas me atrapalhei com um dos problemas da questão salarial dos professores: os planos de carreira variam de estado para estado, de município para município e até de rede estadual para rede municipal. Assim, como comparar o salário de um professor que trabalhar 40 horas e não possui curso superior, com um que trabalha 25 e fez mestrado, se ambos trabalhos em diferentes estados?

Por isso, é necessário ponderar os dados sobre professores que ganham menos de R$850 e estariam abaixo do piso, mas trabalham 20 horas. Pois a proposta do governo de 850 reais como piso é respectiva a jornadas de 40 horas.

A seguir, a tabela salarial de algumas localidades.

PISO SALARIAL* MUNICÍPIOS
Aracaju 951,63 (40 horas)
Belém 989,18 (30 horas)
Belo Horizonte 1.158 (22,5 horas)
Cuiabá 900 (20 horas, com curso superior)
Curitiba 686 (20 horas)
Florianópolis 1.792,08 (40 horas, concursado)
1.354,64 (40 horas, não concursado)
Fortaleza 533,06 (20 horas)
Goiânia 646,69 (30 horas)
Maceió 777,71 (20 horas, com curso superior)
Manaus 816 (20 horas)
Natal 771,20 (20 horas)
Palmas 1.019 (20 horas)
Recife 785,90 (20 horas, com licenciatura)
Rio de Janeiro 918,53 (22 horas)
São Luís 814 (24 horas)
São Paulo 950 (20 horas)
Teresina 535,54 (40 horas)
Vitória 1.168,44 (25 horas)
* Em reais.
As Secretarias Municipais de Educação de Boa Vista, Campo Grande, João Pessoa, Macapá, Porto Alegre, Porto Velho, Salvador e Rio Branco não enviaram os dados sobre piso salarial solicitados pela reportagem no prazo combinado.

PISO SALARIAL* ESTADOS
Acre 616 (30 horas)
Alagoas 1.015 (20 horas, com curso superior)
Amazonas 816 (20 horas)
Bahia 648,79 (20 horas)
Ceará 1.072,58 (40 horas)
Distrito Federal 845,27 (20 horas)
Espírito Santo 519,34 (25 horas)
Mato Grosso 1.084,97 (30 horas, com curso superior)
M. G. do Sul 1.629,20 (40 horas, com curso superior)
Minas Gerais 478,65 (24 horas, com curso superior)
Paraíba 613,64 (25 horas)
Paraná 665,23 (20 horas)
Pernambuco 462 (30 horas, mais 60% de gratificação pelo Magistério)
Piauí 915,10 (40 horas)
Rio de Janeiro 862 (40 horas)
Rio Grande do Sul 414,20 (20 horas)
São Paulo 1.144,39 (30 horas, com gratificação)
Sergipe 819,01 (40 horas, com curso superior)
Tocantins 2.020 (40 horas, concursados)
1.206 (40 horas, não concursados)
* Em reais.
As Secretarias de Educação do Amapá, de Goiás, do Maranhão, do Pará, do Rio Grande do Norte, de Rondônia, de Roraima e de Santa Catarina não enviaram os dados sobre piso salarial solicitados pela reportagem no prazo combinado.

Leia a íntegra da matéria Uma profissão, várias realidades.


20 de abr. de 2007

"E o salário, oh!"

Será que os dados levantados no post "piso dos professores: nenhuma mudança para SC" vale para todo Brasil? Pelos informações do censo escolar, a realidade dos estados do Norte e Nordeste e de pequenas cidades do interior podem ser bem diferentes. Está aberto o espaço para a participação: quanto é o piso salarial na sua cidade e estado? Você considera o valor suficiente? É só clicar em "comentários".

18 de abr. de 2007

Projeto será votado até setembro

Mal o ministro da Educação Fernando Haddad anunciou o envio do projeto de lei ao congresso e o site da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) recebeu centenas de mensagens de professores aflitos em saber quando o salário seria reajustado. Mas, na verdade, o poder legislativo tem até setembro para fixar o piso salarial do magistério público da Educação Básica.

Pela Emenda Constitucional nº53/2006, que criou o Fundeb, o valor deve ser definido em forma de projeto de lei específico para regulamentar o artigo da emenda que trata do piso dos professores. O projeto tramita na câmara em regime de prioridade.

Segundo o projeto, estados e municípios devem adequar a folha de pagamento e estabelecer novos planos de carreira até 1º de janeiro de 2009, sendo que um terço da diferença entre o novo e o atual valor deve ser paga até o início do próximo ano. O piso de R$ 850,00 já inclui a soma das gratificações pagas e vai valer para profissionais efetivos ou substitutos com carga horária de 40 horas.

Piso dos professores: nenhuma mudança para SC


O
Ministro da Educação, Fernando Haddad, aproveitou a euforia do anúncio do PDE (Plano de desenvolvimento da Educação, chamado também de “PAC da Educação”) para incluir como um dos pontos do projeto a fixação de um piso salarial de R$850 para os profissionais da Educação. Entretanto, a proposta não significará nenhum avanço para Santa Catarina. Além de estabelecer um valor aplicado no estado, nenhuma verba extra vai complementar os salários.

Na rede estadual de Educação, o atual piso salarial dos professores é de R$ 409,06, segundo informações do Sindicato dos Tralhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte). Valor que passará para R$509 em setembro, como parte do acordo firmado ano passado entre a categoria e o governo estadual. Embora o vencimento básico esteja abaixo dos R$850 propostos pelo Ministério da Educação, o próprio Sinte faz questão de ressaltar que o salário ultrapassa esse valor quando somadas todas as bonificações que os professores recebem.

Não é um aumento de 100% como o governo tem divulgado. São poucos os estados em que os professores que trabalham 40 horas ganham menos de 850 reais”, contesta Danilo Ledra, coordenador estadual do Sinte. Na ocasião do anúncio do piso, Fernando Haddad apresentou dados bem diferentes: 55% dos professores em início de carreira e 40 % do total (independente do tempo de serviço) ganham menos de R$ 800.

CNTE reprova proposta do MEC


A
cifra de R$850 sugerida pelo governo como piso para os professores também não agradou a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Depois do anúncio do piso, a entidade divulgou nota contestando a fórmula do cálculo do Ministério da Educação.

Ao
lembrar o acordo firmado em 1994, que estabeleceu um piso salarial de R$300 para os professores, a CNTE afirma que o valor atual corrigido pela inflação seria 12,35% maior caso o governo utilizasse o índice de inflação do DIEESE (Departamento Intersidical de Estatística e Estudos Sócio-Enocômicos).

Com
o reajuste proposto, o valor do piso seria de R$1050 para educadores habilitados em nível médio (magistério) e R$ 1.575 para professores com nível superior. Além disso, a CNTE também criticou o fato da proposta do governo não diferenciar o piso pelo nível de escolaridade.

Falta a União contribuir, diz secretário

Durante audiência pública no senado sobre o PDE, o ministro Ferdando Haddad anunciou que o governo “teve o cuidado de compatibilizar o piso com a complementação da União para o Fundeb”. No entanto, o projeto de lei enviado ao congresso nem ao menos cita as contribuições da União.

“O
piso será fixado, mas o Estado não sinaliza queliberar verbas extras. O ônus será para os estados e municípios”, reporva o secretário municipal de Educação de Florianópolis Rodolfo Pinto da Luz. O tom das críticas de Rodolfo da Luz não é mais elevado porque o piso salarial dos professores da rede pública está acima dos R$850 estipulados: R$1800 para professor efetivo e R$1300 para contratados em carácter temporário (ACT).

13 de abr. de 2007

Entre gestores e interventores

Alunos protestam contra posse de professor indicado pela Secretaria de Educação e exigem posse de diretor eleito. Foto: Flávio Nevs/DC

O protesto dos estudantes do IEE (Instituto Estadual de Educação de Santa Catarina), na tarde da última terça, de modo algum foi fato isolado. Os alunos impediram a posse do coordenador-geral Luiz Antônio Grocoski, que foi indicado pelo secretário de Educação, Ciência e Tecnolagia de Santa Catarina, Paulo Bauer. Grocoski e Bauer foram barrados pelos estudantes na entrada do IEE. Segundo reportagem do Diário Catarinense de hoje, alunos, pais e professores exigiam a posse do professor Elói Girardi, escolhido pela comunidade em dezembro do ano passado.

A pressão para que os diretores sejam eleitos pela comunidade é reinvidicação dos professores desde a década de 80. A exigência, segundo a categoria, sustenta-se sobre argumentos de que as escolas devem ter mais autonomia em relação às diferentes políticas estaduais e de que é uma forma de evitar a corrupção nas instituições de ensino. Pela lógica dos sindicalistas, a comunidade elege os profissionais mais aptos ao cargo.

O governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, esquivou-se do tema quando perguntado sobre o assunto durante as eleições do ano passado. "A escola tem que ser dirigida pelos melhores, pelos mais capazes, pelos mais titulados. Se a eleição for feita entre os professores mais capazes, mais titulados, se houver um critério para que qualquer um não possa ser candidato a diretor, a eleição é válida", declarou o governador em em entrevista ao site Universidade Aberta, da UFSC.

A verdade, no entanto, é que a direção de grandes colégios como o IEE, com mais de 6 mil alunos, são tão importantes para o governo quanto os cargos administrativos de confiança. E custará ao governo abrir mão desses postos. Outra verdade é que a eleição de professores não assegura a escolha de administradores aptos e honestos, por mais louvável que seja o caráter democrático do pocesso.

Do mesmo modo, o apelido de "interventor" que os estudantes usaram para se referirem ao coordenador indicado pela secretaria de Educação tem um quê de verdade. Tampouco a nomeação política garante a eficiência de um administrador educacional. Principalmente quando desconhecem a realidade de uma escola.

9 de abr. de 2007

Melhores reportagens

Para comemorar a edição de número 200, a revista Nova Escola disponibilizou os arquivos de suas principais reportagens desde 1989. Todos estão no formato PDF, embora alguns tenham sido digitalizados dos original em papel e comprometam a leitura. Um dos arquivos contém entrevista com o revolucionário educador (ou educador revolucionário, como quiser) Paulo Freire, em 1989, quando assumiu a Secretaria de Educação da cidade de São Paulo.

Além de arquivo pessoal, vale também para perceber como a educaçãoo brasileira mudou nos últimos 18 anos. Mesmo assim, algumas questões abordadas continuam na pauta das reuniões escolares. Por isso, vale a pena guardar para consulta futura. E logo! Porque a tendência entre as revistas é restringir o acesso a conteúdos antigos...

7 de abr. de 2007

Ou greve, ou salário


O Ministro do Planejamento Paulo Bernardo fez questão de ressaltar as greves dos trabalhadores em educação como um das razões para regulamentar o direito de greve dos servidores públicos. "
É inaceitável ter categorias paradas por 50 dias - ou até o absurdo de 90 dias de greve, como já ocorreu na educação - com as pessoas recebendo salário. Aí vira férias. Deixar crianças sem aula, jovens sem universidade e continuar recebendo salário, não dá.", manifestou-se o ministro em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

O governo pretende,
o quanto antes, apresentar ao congresso o anteprojeto de lei para regulamentar o direito constitucional de greve dos servidores. Pelo projeto, servidor público em greve não recerá salário, medida que desagradará o funcionalismo público. Já a proposta do direito de negociação coletiva aos servidores é uma garantia que setores sindicais como a CUT (Central Única dos Trbalhadores) já reivindicava ao governo.

Segundo a
reportagem do Estadão publicada hoje, Paulo Bernardo afirma estar convencido de que as greves sucessivas na educação, como as de 2005, contribuíram para deteriorar a qualidade do ensino. “É evidente que essas greves fazem com que as crianças percam o ritmo de estudo, além de desestimular os professores. Se queremos que o Estado dê respostas de boa qualidade, é preciso que isto (o direito de greve) seja regulamentado”, opinou o ministro.

Ou salário, ou Greve


Algumas entidades da Educação, como o Andes (Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior), recentemente já haviam manifestado descontentamento com a proposta do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) que limita o crescimento real da folha de pagamento do funcionalismo em 1,5%. Para o setor, a medida significa congelamento de salários por 10 anos.

O
Condsef (Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal) também já preparava uma greve para a primeira quinzena de Abril. Como o projeto de regulamentação das greves ainda não foi apresentada, os servidores públicos da educação ainda possuem a garantia de seus salários. Mas, no caso de greve, as críticas ao projeto do governo certamente vão rechear as reividicações.

6 de abr. de 2007

Artigo

Em artigo publicado no dia 22/3, Hélio Schwartsman comenta a proposta de criação do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), anunciado dias antes. Apesar de incentivar a iniciativa, critica o fato de a proposta não aproximar a educação do nível ideal, mas ajudar as escolas que estão abaixo da média. Também reforça a necessidade de "ações mais decididas" e ressalta possíveis dificuldades de implantação do programa. Reforça, ainda, a necessidade de dar vantagem a escolas, municípios e professores que se destaquerem em relação aos demais.

Tributo à Astúcia

Hélio Schwartsman, publicado no caderno Pensata, da Folha de São paulo de 22/03/2007

Aproveito que o governo anunciou, na semana passada, seu Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) para arriscar mais algumas considerações sobre esse importante tema.

As diretrizes do PDE, apresentadas pelo ministro Fernando Haddad, receberam elogios quase unânimes, incluindo de adversários da administração de Luiz Inácio Lula da Silva. Não serei eu o espírito de porco que vai tachar o plano de inepto, mas reservo-me o direito de cultivar algum ceticismo.

É claro que existem pontos positivos, muitos até. A ênfase do PDE recai corretamente sobre o ensino fundamental, mais especificamente sobre a alfabetização lingüística e matemática. E não há dúvida de que essa deve ser a prioridade. Nada tenho contra aulas de educação artística, capoeira, filosofia e culinária, mas, se o aluno não souber ler, escrever e realizar as seis operações algébricas, a escola não será para ele muito mais do que um grêmio recreativo. Certamente é muito melhor estar no colégio praticando esportes do que nas ruas iniciando-se nas artes do banditismo, mas a escola não pode ser apenas uma alternativa ao tráfico. É preciso, também, que ela ensine. Dizem as más línguas que foi inventada para isso.

Uma das principais inovações do PDE é a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira (Ideb). A idéia é engenhosa. O Ideb irá combinar numa nota que vai de 0 a 10 indicadores de resultado (desempenho de alunos em testes-padrão) e fluxo (dados de repetência e evasão). De posse dos números, o MEC pretende procurar os mil municípios com pior avaliação e pressionar os prefeitos para que aceitem uma espécie de "intervenção consentida". O ministério entraria com assistência especializada, equipamentos e recursos financeiros extras e, em contrapartida, o alcaide teria de acatar determinadas imposições técnicas. Não poderia mais, por exemplo, nomear apadrinhados políticos para o cargo de diretor de escola. Tais indicações teriam de estar baseadas no mérito. Para os anos seguintes, a manutenção do convênio fica vinculada ao cumprimento de metas, como a melhoria do desempenho no Ideb.

Haddad diz que já conta com R$ 500 milhões para aplicar neste programa em 2007 e espera conseguir outros R$ 500 milhões, chegando a R$ 1 bilhão só este ano.

Cabem aqui várias observações. A proposta me parece tímida. Imaginemos, a título de experimento mental, que tudo saia o melhor possível, que todos os prefeitos concordem com a interferência federal e que o MEC consiga o pequeno milagre de, no curto espaço de quatro ou cinco anos, fazer com que os mil piores se recuperem e cheguem à média nacional de hoje. Onde isso no coloca? Mais ou menos onde já estamos. É claro que, por efeito estatístico, a mediana subiria, mas o país continuaria com uma educação no geral muito ruim. Cerca de 5.000 municípios que não estão na rabeira nem sequer seriam afetados pela principal ação em favor do ensino.

Basicamente, senti falta de ações mais decididas _que vão além da Olimpíada da Língua Portuguesa, cuja criação está prevista no projeto_ para melhorar os indicadores dos grupos que já se encontram na média ou mesmo acima dela. Os primeiros do último pelotão ainda chegam depois dos últimos do primeiro. E, em termos internacionais, o Brasil está muito, muito atrás dos que correm na frente, incluindo nossas chamadas escolas de elite (particulares).

Outro problema da proposta está na relativa leniência com que trata autoridades que não dão a mínima para a educação. Prefeitos que se recusem a aderir ao programa apenas deixariam de receber recursos extras. No mais, seguiriam livres para delinqüir contra a garotada.

Prevejo ainda dificuldades na regulamentação da matéria. Basta lembrar que, em São Paulo, o Estado mantém muitas das escolas que atendem a alunos da 1ª à 4ª série. Incluí-las no programa exigiria, além de um convênio com a prefeitura, um com o Estado.

Também ganhou destaque na mídia o dispositivo do PDE que prevê a realização de uma prova para avaliar a alfabetização a ser aplicada a alunos entre 6 e 8 anos de idade. Esse é, para mim, um destaque positivo. Se estamos falhando nessa tarefa tão básica, precisamos tentar descobrir exatamente em que ponto e por quê. Não resisto, entretanto, a deixar de lembrar que, em 2005, o Ministério Público paulista, em conluio com a Justiça, proibiu os colégios particulares de realizarem provas para a seleção de alunos novos no pré e na 1ª série. O argumento básico era o de que crianças de 6 ou 7 anos não poderiam ser submetidas a tamanho estresse. Pelas mesmíssimas razões, os procuradores deveriam agora tentar bloquear o teste federal.

No que diz respeito aos professores, o PDE também traz boas notícias. Haddad propõe a criação de um piso salarial para o magistério que deverá ficar nas imediações dos R$ 800. Trata-se de uma melhoria importante que era devida já havia muito. É verdade que os estudos disponíveis não mostram uma correlação inequívoca entre salário de mestre e qualidade de ensino, mas era preciso pelo menos sinalizar que o governo ainda não considera "superada" a nobre profissão de professor. Com mais uns alguns aumentos assim, dentro poucas décadas essa talvez volte a ser uma função respeitada. As verbas para essa despesa já existem. Viriam do Fundeb.

Vale destacar ainda a proposta que vincula todos os professores do país a uma universidade, onde terão de submeter-se a atualizações trienais. Os que ainda não possuem diploma de nível superior terão a oportunidade de obtê-lo.

Haveria muitos outros pontos do PDE a analisar. Como já abusei do tempo e da paciência do leitor que chegou até aqui, abstenho-me da fazê-lo. Limito-me a comentar uma importante ausência. Não vi no plano nenhum incentivo ao que chamei na coluna da semana passada de "um pouco de concorrência com 'feedback' positivo", ou seja, um sistema que premiê os que se esforçarem mais. Minto. Há um embrião dessa idéia em relação às universidades federais, que receberão recursos extras caso cumpram determinadas metas. A proposta, porém, vem acompanhada de tantas ressalvas com vistas a eliminar a possibilidade de competição entre as instituições que acaba se anulando.

Não sou exatamente um entusiasta do capitalismo, mas é preciso convir que esse sistema tem uma incrível capacidade de encontrar soluções criativas para todo tipo de problema que apareça. Basta que se ofereça uma vantagem qualquer para quem apresentar a resposta que, se houver uma, ela aparece. Outros tentarão fazer o mesmo, deflagrando um processo de aperfeiçoamento contínuo. Tamanha é a força dessa disposição que, se não tomarmos as devidas precauções, barreiras legais e morais são rápida e facilmente atropeladas.

A busca frenética pela vantagem tende a gerar muitas assimetrias e desigualdades. Mas elas só aparecem porque já não éramos antes, para início de conversa, todos iguais. Configuraria teimosa parvoíce deixar de usar características do capitalismo que poderiam resultar em benefícios para o bem comum. Se todos os professores, diretores e escolas tentassem --ainda que pelos motivos que alguns classificam como errados-- melhorar, o saldo líquido seria a melhoria do ensino, justamente o objetivo que perseguimos. O isonomismo principista que ainda se apregoa para o serviço público apenas tende a nivelar por baixo.

Mesmo com todos esses problemas e muitos outros que deverão surgir nas fases de regulamentação e implementação, torço para que o PDE comece a reverter o atual quadro de descalabro educacional. Ou o Brasil acerta os rumos do ensino nos próximos anos ou sacrificaremos mais uma geração à estultícia.

3 de abr. de 2007

Projeto editorial

Nossa Educação (http://www.nossaeducacao.blogspot.com) é um blog especializado em notícias, análises e opiniões sobre ensino brasileiro. É produzido por Diogo Honorato , estudante da 6ª fase do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), desde abril de 2007.

Tem como foco os debates sobre a situação atual da Educação brasileira nos diversos níveiseducação infantil, ensino fundamental, médio, superior e pós-graduação - bem como as discussões sobre as políticas públicas que visam a melhoria de tal área, sejam elas de iniciativa federal, estadual ou municipal. Qualquer fato político, legislativo, acadêmico ou popular com relação a esse tema poderá ser incluído na pauta deste blog.

Público

O público-alvo é constituído por professores educadores, administradores, alunos e internautas preocupados com a melhoria da qualidade da Educação brasileira. É, portanto, um nicho específico, mas com características universalizante, haja vista queEducação” faz parte das grandes reivindicações da sociedade.

Objetivo:

Nossa Educação tem como objetivo complementar a incipiente cobertura que é feita na área de Educação no Brasil. Com isso, espera-se colocar a Educação na pauta das discussões da sociedade, assim como fornecer informações e opiniões a partir de discussões existentes. O grande norte, portanto, é a melhoria da Educação Nacional.

Por se tratar de uma produção feita por um estudante de jornalismo, outro objetivo do blog será o de servir como espaço de prática profissional e de incentivo ao acompanhamento das grandes questões atual sobre a Educação brasileira.

Questões Gerais

O blog orienta todas sua produção a partir de temas ou fato atual que julgue relevante ou que mereça complementação. Prima pela produção própria, embora não se prive de comentar e interpretar material noticioso vinculado na imprensa e de divulgar opiniões de terceiros, desde que tenham como tema a Educação.

O responsável pelo blog se compromete a seguir os princípios éticos do Jornalismo brasileiro. Nesse sentido, se policia para evitar qualquer tipo de alinhamento político, trabalhista ou ideológico de questões que dizem respeito a Educação.

Todavia, por ser o blog um espaço de liberdade manifestações, o responsável se reserva no direito de opinar sobre os temas tratados sempre que julgar necessário. No entanto, suas posições não deverão basear-se unicamente em juízos de valor, mas em fatos, informações e análises de terceiros, como exige o bom jornalismo.