29 de jun. de 2007

Por raça, mas não apenas

Não sou dos que gostam de tomar casos de países desenvolvidos como exemplo pelo simples critério deles serem desenvolvidos. De todo modo, uma decisão tomada pela Suprema Corte americana é uma boa contribuição ao debate sobre cotas no Brasil. Mesmo sem consenso, a suprema corte resolveu limitar a utilização do critério de "raça" para alocar os alunos nas escolas públicas americanas.

Longe de ser uma afronta às ações afirmativas no país, cinco dos nove membros enfatizaram que a "raça"deve ser um dos critérios, mas não deve ser o único. Uma saída interessantes, acima do debate brasileiro sobre se deve existir cotas para negros ou para pobres. Afinal, por que não os dois critérios conjuntamente?

Vale lembrar, no entanto, que a medida se referem a escolas públicas, não à universidades. Ou seja, não se questiona o mérito dos estudantes, como seria comum caso se tratasse de ensino superior.

Leia aqui a matéria completa

27 de jun. de 2007

Na TV: educar não rima com com censurar

Se o leitor acredita que o que seu filho vê na TV é tão importante quanto o que ele estuda ou deixa de estudar na escola, então o comentário do jornalista César Valente em seu blog lhe é pertinente. Ao tratar da pesquisa de opinião CNT/Census, ele comenta um dos tópicos, que trata do projeto que institui a classificação indicativa dos programas televisivos:

"Censura, para a geração que viveu durante a ditadura, tinha um significado mais concreto e negativo. Agora, passados tantos anos, não é de espantar que a população queira ter alguma defesa contra as barbaridades que são mostradas na TV. Por isso, os 58% que aceitaria que alguém visse antes o que a TV quer apresentar e fizesse uma seleção, não pode automaticamente servir para afirmar que a maioria dos brasileiros é a favor da censura. Mostra, antes, que as emissoras de TV estão passando dos limites e que o telespectador comum sente-se impotente para dizer-lhes o que gostaria de ver e o que não quer que seja mostrado."

Censura não é Educação. Mas, afinal, o que é censura?

.

25 de jun. de 2007

A ver metas

Depois de receberem as notas de desempenho no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), a grande parte das escolas agora se pergunta: como melhorar? Afinal, o índice só mostrou em números o que o senso comum sabia. E, fora uma ou outra que fugiu à regra (não chegam a 1% as que conseguirem mais que seis), a nota só quantificou o quão caóticos estão os rendimentos e repetência dos alunos.

As escolas com nota baixa agora terão que se esforçar para cumprir as metas do MEC - todas tem que busca índice seis até 2021. Ao divulgar a nota de cada escola, evidenciou-se quais exatamente possuem deficiências – e não o município ou estado como um todo, como divulgado anteriormente. A comunidade, tanto quanto o governo, agora sabe que se a escola do bairro vai mal e cobrará melhoras.

Sim. E melhorar como?

A julgar pelo que tem divulgado, nem o próprio MEC sabe ao certo. Soltando confetes de cifras, o ministro Fernando Haddad anunciou que os mil municípios com os piores ideb´s iriam receber apoio pedagógico e financeiro do governo. Entretanto, nenhuma proposta para as escolas em particular, o que é de se estranhar. Afinal, se duas escolas de uma mesma cidade tiveram notas diferentes, é possível que os problemas sejam diferentes – ou em intensidade diferente.

Alguém no MEC deve ter notado essa incoerência. Assim, Haddad anunciou no último dia 20 o Plano de Desenvolvimento da Escola. A solução é a mais simples possível, mas só para o MEC: transfere-se para a escola a tarefa de se auto-diagosticar. As unidades de ensino deve criar um grupo de trabalho, que fará sua auto-avaliação, indicará quais ações serão necessárias e estipulará prazos e metas.

Recursos extras (que, na maioria dos casos, é o que realmente falta), só se a escola estiver entre os mil municípios com pior nota no Ideb. As demais, por enquanto, ficam a ver metas.

21 de jun. de 2007

Antigas e novas bandeiras

Causas não faltam ao movimento estudantil. Algumas já são velhas reivindicações, como mais verbas para Educação e qualidade de ensino, mudança na política econômica e defesa de causas sociais. Outras foram substituídas: em vez de centrar forças em causas de interesse geral, como liberdades democráticas, estende seu foco a causas específicas, como questões de gênero e direito ao transporte público.

Mas também surgiram novas bandeiras em sintonia com as mudanças da última década. Com o aumento de vagas nas universidades particulares, surgiram questões como combate ao aumento das mensalidades e luta por condições do estudante concluir seus estudos.

“O número de estudantes aumentou, mas a maioria dos estudantes hoje são de universidades particulares, trabalham e tem dificuldades para se manter na universidade. A luta é pela ampliação das vagas e pela permanência, além de discutir as grandes questões da sociedade”, define o presidente da União Catarinense dos Estudantes (UCE), Thiago Andrino.

Para Andrino, o maior desafio do movimento é “trazer para a universidade um pouco de participação”. Para isso, uma das estratégia do movimento estudantil é investir em causas com resultados mais imediatos, como por exemplo, a luta pelo transporte coletivo.

“O jovem tem dificuldade de construir objetivos a longo prazo. Mas se perceberem que podem conseguir o passe livre para amanhã, eles vão para a rua amanhã. E assim ele se conscientiza e participa de um debate maior, que envolve o papel do estado”, explica Thiago Andrino, citando a relação dos estudantes com o Movimento Passe Livre.

Apesar de hoje ser professor do Departamento de Economia da UFSC, Nildo Ouriques também tem um passado de envolvimento com o movimento estudantil da Universidade. Ele foi fundador e primeiro presidente do Centro Acadêmico Livre de Economia da UFSC, em 1981, e presidente do Diretório Central dos Estudantes entre julho de 1981 e julho de 1982.

Comparando com o passado, Ouriques não poupa críticas ao momento atual do movimento estudantil. “A luta hoje começa por questões políticas muito distantes dos estudantes. Antigamente, os estudantes começavam por questões menores”, afirma o professor. "Os estudante precisam lutar contra as carências imediatas, começar por aquilo que mais afeta a vida estudantil".

Em sua opinião, também faltam reivindicações por mais verba na educação. Durante a gestão de Ouriques, o DCE organizou uma greve que reivindicava financiamento adequado aos novos cursos que surgiam na UFSC.

19 de jun. de 2007

De domínio público e permanente



O leitor possivelmente já recebeu algum e-mail divulgando o Portal Domínio Público. E, também possivelmente, esse e-mail disse que o site estava prestes a ser tirado do ar por falta de acessos e fazia campanha para que todos o visitassem. A mobilização deu certo, e o número de acessos por mês aumentou cerca de 583% em menos de três anos (conforme gráfico acima). No entanto, o Portal nunca correu risco de sair do ar pelo motivo divulgado.

"É falsa a notícia veiculada na internet, e na mídia em geral, sobre a possibilidade de desativação deste Portal por suposto motivo de falta de acesso", informou a equipe responsável pelo portal. "Já foi divulgada uma nota desmentindo, mas as pessoas, infelizmente, continuam não verificando e repassando a informação".

De qualquer forma, o e-mail sobre o portal foi um dos raros casos de correntes que tenham um bom motivo. Afinal, são mais de 46 mil obras cadastradas. Muitas delas, aliás, tratando diretamente de Educação: publicações do MEC, documentos de congressos, apostilas, material da TV Escola, além dos livros infantis e publicações de Machado de Assis e Shakespeare (mas esses últimos, o leitor já deve saber, de tantos e-mails que recebeu contando).

A equipe do portal também mantém um blog, em que informam as atualizações do Domínio Público.

* Uma correção ao título da postagem: de certeza que o site fica no ar, atualizado semanalmente, só até o próximo governo assumir. É que, na cultura política, manter projetos de governo anterior, mesmo que seja bons, não pega muito bem.

Falta maior participação, dizem militantes

As divergências são apenas um dos problemas do movimento estudantil nos dias atuais. A dificuldade para envolver os jovens na política é uma questão que o próprio presidente da UCE (União Catarinense dos Estudantes), Thiago Andrino, admite.

"O perfil dos estudantes era outro. Além da maioria ser de universidades públicas, se dedicavam a universidade de maneira exclusiva. [Na ditadura], era mais fácil aglutinar as pessoas", justifica Andrino. O estudante também afirma que hoje o movimento “tem dificuldade para trazer a elite para discussões sociais”.

Para o professor Nildo Ouriques, que foi presidente do Diretório Central dos Estudante da UFSC (DCE), as entidades de hoje “tem um déficit gigantesco de legitimidade”. Mas nega que os jovens de hoje sejam mais individualistas.

“Nem acredito mais na luta do movimento estudantil. O movimento que está aí é um movimento que tenta e faz, mas é precário. E se não reconhecemos isso, não saímos do buraco”, disse Ouriques.

O presidente do DCE da UFSC, Gustavo Chraim também concorda que nem sempre o movimento estudantil tem a base necessária, mas defende o momento atual. “O movimento estudantil hoje está muito mais articulado que na época da ditadura, já que na época não se podia nem falar da UNE. Hoje é bem mais fácil organizar o movimento”, afirma. Chraim também cita que o último congresso da UNE reuniu mais de 15 mil participantes.

Movimento dividido


Pelos dados de 2004 do Ministério da Educação, existem no Brasil cerca de 60 milhões de estudantes, somando-se ensino básico e superior. A defesa do interesse dessa parcela da população é, em tese, conduzida pelo movimento estudantil, representado por todas as organizações que o integram. Suas principal entidade - a UNE (União Nacional dos Estudantes) e Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) - orgulham-se de sua atuação nas discussões da sociedade ao longo de seus quase 70 anos de existência. Entre esses momentos, a resistência aos regimes militares e a mobilização dos estudantes pelo impeachment do presidente Collor.

Mas os próprios militantes reconhecem que o movimento estudantil mudou. A maior parte de suas lideranças tem dificuldades para envolver um número representativo de estudantes. E hoje também não faltam críticas quanto à atuação e participação do movimento.

Nesta reportagem, o Nossa Educação ouviu militantes que estão ou que passaram pelo movimento estudantil. Na entrevistas, falam sobre os problemas, as mudanças e as novas lutas das entidades discentes.

Desunião nacional

Durante a crise política do mensalão, em agosto no ano passado, o movimento estudantil deu sinais de que ainda está ativo. Mas as manifestações também evidenciaram que está dividido. No primeiro dia, a UNE participou de um ato contra corrupção, mas que apoiava o presidente Lula. No dia seguinte, outros estudantes ligados ao Conlute (Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes) participaram de ato também contra a corrupção, mas criticavam o governo Lula.

O apoio da UNE ao governo Lula foi apenas um dos motivos que levaram estudantes dissidentes a criar a Conlute em 2004. A criação, por exemplo, ocorreu durante um “Encontro Nacional Contra a Reforma Universitária”, tema que a UNE mais apóia do que contesta. Segundo o militante da Conlute Rafael Góes, hoje a coordenação reúne todas as entidades estudantis que não se sentem representadas pela UNE. Além de não apoiarem nenhum candidato e serem contra a Reforma Universitária, a Conlute também é contra a “burocratização” na UNE e faz parte da Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas), que reúne organizações de oposição ao governo Lula.

Apesar de se colocar como uma alternativa à UNE, o Conlute ainda não se considera uma entidade. Seu colegiado nacional foi eleito durante o Encontro Nacional de Estudantes em maio de 2006 e ainda não possui lideranças estaduais.

17 de jun. de 2007

Especial movimento estudantil

Estudantes ocupam reitoria da UFES: lado a
lado reinvidiações , sarcasmo e álcool.
(foto: midiaindependente.org)


Primeiro
foi na USP. No dia 3 de maio, estudantes ocuparam a reitoria da Universidade para protestar contra medidas do governo paulista que consideravam ferir a autonomia universitária e reivindicar melhor infra-estrutura. Em junho, estudantes de Florianópolis saíram às ruas para protestar contra o aumento das passagens de ônibus. Entre os dias 14 e 16 de junho, foram mais quatro reitorias invadidas: UFES, UFPA, UFBA e UFRJ. Todas por estudantes.

A reunião desses episódios mostra como o movimento estudantil ainda possui articulação no Brasil. Fato que dispensa o saudosismo dos tempos da ditadura e das “Diretas ”, momentos sociais em que os estudantes tiveram importante participação. Os tempos, no entanto, são outros. E o movimento estudantil também evidencia seu novo perfil.

Para compreender melhor a nova configuração e os desafios desse ente político-social, o Nossa Educação traz uma reportagem especial sobre o movimento estudantil nos tempos atuais. Produzida inicialmente para o site Universidade Aberta, a matéria não chegou a ir para o ar para evitar problemas jurídicos, uma vez que um dos entrevistados candidatara-se para as eleições no ano passado.

A reportagem, dividida em três partes, começa a ser publicada nesta segunda, 18.

15 de jun. de 2007

Estágio a distância?

Completo a discussão sobre a nova lei de estágio com a opinião da Gerente técnica do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) Sylvana Rocha. Quem estuda na modalidade de ensino a distância (EaD) pode fazer estágio ? Sylvana diz que sim, e com razão. Afinal, é um curso superior como qualquer outro, com igual necessidade de ligação com a prática - se não maior, justamente por ser a distância.

"De acordo com o decreto 5.622/2005, todo curso a distância prevê momentos presenciais obrigatórios, nos quais se promovem encontros e apresentações de trabalho. O estágio é um desses momentos", escreve Sylvana Rocha.

O Projeto de Lei que prevê novas regras para a prática de estágio ainda não contempla essa modalidade. Que as leis não acompanham as mudanças da sociedade, isso já sabemos. Mas projetos de lei a serem votados e que já estão defasados, isso sim chama a atenção.

14 de jun. de 2007

Educação de gabinete

Qualquer passada de olho rápida por jornais que cobrem a área de Educação é suficiente para constatar que a maioria faz "cobertura de gabinete", como se diz no nas redações jornalísticas. Matérias em sua maioria feitas de dados estatísticos, de releases e de declarações de autoridades ou pesquisadores. Estudantes e professores só aparecem para ilustrar matérias, sem grande utilidade.

Uma proposta interessante foi a do jornal carioca "O dia", que se propunha a "ir para dentro das escolas" e "falar para professores, pais e alunos", como definiu Arnaldo César, um dos diretores executivos do jornal. Por isso, deixo a contribuição da entrevista concedida à revista "Mídia e Educação".

Entrevista com Arnaldo César, editor de "O Dia"

3 de jun. de 2007

Vagas para aprendizagem


A legislação que disciplina a atividade de estágio, se cumprida, pode aumentar a possibilidade de um estágio ser bem utilizado. Entre os diversos tipos de estágio, o não-obrigatório é o que maisproblemas. Isso porque muitos estudantes não se preocupam com a existência do vínculo formal entre a empresa, o aluno e a instituição de ensino, além das demais obrigações de cada uma das partes. Na UFSC, por exemplo, onde 62,3% dos estágios não são obrigatórios, exige-se que o estágio seja registrado, que se
apresenta garanta seguro contra acidentes, que as atividadespelo coordenador de cada curso, e que se apresente um relatório ao fim de cada semestre.
a serem realizadas sejam descritas e aprovadas
Além
de garantir que o estágio tenha como objetivo o aprendizado na linha de formação do estudante, as normas também evitam que a atividade se confunda com emprego formal. Casonão fique claro aos fiscais do trabalho que uma atividade não reflete em aprendizado constante, a empresa pode ser autuada. “A partir do momento em que nãoaprendizado, não se configura mais como estágio”, alerta José Brandão.
Nesse caso, a empresa fica obrigada a pagar a diferençaentre o piso da categoria e o valor da bolsa-auxílio paga e os demais encargos.

Estar
dentro da lei, contudo, não garante a eficácia de um estágio como forma de aprendizado.
A própria legislação exige que a atividade tenha condições de proporcionarexperiência práticalinha de formação do estudante”, o que pode ser feito de diversas formas, dependendo da interpretação. Sob o pretexto da “experiência prática”, por exemplo, a Abres defende o estágiocomo forma de “diminuir o impacto da transição” do ambiente de ensino para o profissional. Paratanto, entende como aprendizado o contato com a filosofia e funcionamento de uma empresa e atitude profissional adquirida. a prática do que se aprende na sala de aula e a orientaçãoconstante de um profissional, nem sempre existe. na

Embora
algumas empresas e agentes de integração tenham implementado sistemas de acompanhamento e avaliação dos estágios, pela lei, a obrigação compete às unidades de ensino. Em contrapartida, instituições como a UFSC obrigam as empresas a designar um profissionalpara orientar o estudante, um relatório (de periodicidade variável de acordo com o curso), alémsupervisão de um professor, quando o estágio é obrigatório. Em caso de estágioporém, as instituições de ensino não têm como verificar qual o real caráter de um estágio. “Os relatórios são fraudáveis”, questiona José Brandão, da delegacia do trabalho. A diretora do departamento de estágio da UFSC, Maria de Lurdes Dias, não maiores problemas. “Se um estágio não é obrigatório, não é obrigatória a aprendizagem. Ele complementa a aprendizagem acadêmica”, justifica.

Em
da não-obrigatório, maio de 2006, o Ministério Público do Trabalho impôs termos de ajuste de conduta a diversas instituições de ensino e agentes de integração. “De pra , muita coisa melhorou”, afirma Maria de Lurdes. Todavia, independente de leis, julgamentos e fiscalizações, cabe ao estudante a maior das responsabilidades. Afinal, é mais interessado nos resultados pessoais e sociais do estágio que vai realizar.

1 de jun. de 2007

Profissão estagiário

Para estudantes, as vantagens da bolsa-auxílio, da experiência e da proximidade com o mercado. Para empresários, os benefícios da isenção de encargos trabalhistas. Mas todas todos esses aspectos positivos podem ser usados de modo a mascarar um mau-uso do estágio.O Chefe de fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho de Santa Catarina, José Márcio Brandão, enumera os casos mais absurdos: estudante de Enfermagem estagiando em banco, aluna de Psicologia em livraria, jovem que já havia concluído o ensino médio e foi obrigada a se rematricular para ficar com uma vaga de estágio, além de uma empresa em que todos os funcionários eram estagiários, inclusive o gerente.

“O estágio tem sido utilizado de forma a fraudar a legislação trabalhista e substituir o trabalhador por um estagiário, que é uma mão-de-obra muito mais barata”, afirma Brandão. “Muita gente confunde as coisas. As empresas têm que ter claro que o estágio é feito para o estudante”, sublinha o superintendente estadual do Centro de Integração Empresa-Escola em Santa Catarina, Aníbal Dib Mussi.

Em enquete realizada com leitores do site Folha On-line, 66% dos participantes afirmou que o maior problema do estágio é sua má-utilização e que os estagiários, às vezes, são usados como mão-de-obra barata em vez de serem estimulados a aprender sobre a profissão. Outros 17% apontaram os abusos das empresas e 11% a excessiva carga horária. Todavia, talvez um dos grandes problemas seja a própria falta de dados confiáveis sobre o estágio no Brasil. Os Ministérios da Educação e do Trabalho não possuem pesquisas sobre o tema, nem sabem precisar o número de estagiários existentes.

No escritório de arquitetura onde a estudante da UFSC Mariane Martins realiza estágio há seis meses, a maior parte do trabalho é realizado por estagiárias: são duas profissionais e cinco estudantes. A estudante da 7ª fase reconhece que sempre é instruída em suas atividades. Mas releva que, às vezes, recebe tarefas de muita responsabilidade, que deveriam ser feitas por arquitetos já formados, e que seu estágio não tem vínculo formal. “Quando comecei, até pedi que fosse feito o registro do estágio, mas minha chefe disse que não era possível, porque a empresa não era registrada”, conta.